terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Mensagem de fim de ano


Caros leitores, finalmente estou em recesso, mas estou com preguiça de escrever... Pois é, logo agora que finalmente arranjo tempo opto por não usá-lo aqui.... =P

Sendo assim, peço perdão por esse hiato na produção de textos no meu blog, mas fazer Medicina às vezes pode consumir demais o nosso tempo =| E pra piorar, nossas energias! Dessa forma agora desejo apenas vegetar um pouquinho para recuperar o ritmo frenético de outrora, tanto aqui como nos estudos e no trabalho.

Chega determinada fase do ano em que não temos mais a disposição de antes, nada mais nos agrada, sentimos vontade de jogar tudo pro alto e gritar o mais alto possível. Eu estou nessa fase.

Pra piorar, dia 27 de dezembro eu faço aniversário. Eu não gosto de fazer aniversário...

Mas com um descanso físico e principalmente mental/intelectual eu voltarei nova em folha, com a mesma energia e disposição de sempre!!!!

Comunico-vos que não abandonarei o blog, só vou dar um tempo...

Em breve novas postagens!

E a todos, Boas Festas!


Saudações,

Carolina Marques


terça-feira, 12 de outubro de 2010

Grandes esperanças, de Charles Dickens

Cuidado, contém SPOILERS!!!!!!!!

O romance em três partes do escritos inglês Charles Dickens (que é mais lembrado por seu Oliver Twist) é indubitavelmente um Clássico da literatura, pois com uma história bem tecida, com intrigas, mistérios, e, como é o próprio protagonista –o órfão ‘’Pip”- o narrador, nós leitores ficamos sempre à mercê das mesmas surpresas e emoções do personagem, o que cria um vínculo ainda maior com a trama.

Vários temas podem ser encontrados nessa longa narrativa (que li em dois dias, nem mais nem menos!): loucura, amor não correspondido, crimes, pobreza, ascensão social, injustiças, e as esperanças de Pip, tão referidas ao longo da obra.

Pip (Philip Pirrip) é um órfão criado pela irmã, uma rude e nervosa mulher, e por seu marido, Joe Gargery o ferreiro da aldeia, um homem ignorante, mas doce, compreensivo, e o verdadeiro amigo de Pip.

Certo dia, um fugitivo o encontra sozinho e ordena que Pip traga mantimentos e uma lima (o condenado ainda possuía correntes presas aos pés) no dia seguintes, sob ameaças. Pip surrupia provisões da sua despensa (carne moída, um empadão de porco, conhaque e um osso de carne) e providencia a lima na oficina de Joe (ele era ferreiro, lembram?) e leva ao homem na hora marcada. O detento, Abel Magwitch, fica grato ao menino e depois de alguns imprevistos, some. Pip sempre se sentiria culpado por esse incidente que relembraria varias vezes ao logo da vida a partir daí.

Pip é apresentado na casa de uma mulher rica, a Srta. Havisham, enlouquecida, que desde que foi abandonada pelo seu noivo, um impostor, no dia do seu casamento, nunca mais viu a luz do dia e nem usou outro vestido senão o traje nupcial. Ela vivia presa entre as recordações das núpcias que não ocorreram, os enfeites, enxoval, e até mesmo o bolo nupcial nunca mais foram tocados, e os relógios estão parados desde sua grande decepção.

Ela cria uma menina da idade de Pip, Estella, belíssima, orgulhosa e perniciosa, educada para maltratar e se vingar dos homens. Por infortúnio, Pip se apaixona por ela, mas ela ridiculariza sua condição inferior e não o corresponde, pois seu coração é frio e ela não sabe amar.

Pip ao retornar a sua aldeia após ser dispensado pela Srta Havisham depois de algumas visitas, torna-se aprendiz de ferreiro junto a Joe, e amaldiçoa o fato de não se um cavalheiro, pois tenciona conquistar Estella, ainda que não obtenha êxito.

Alguns anos mais tarde, o nosso herói recebe a visita de um advogado, Jaggers, que lhe anuncia uma bela fortuna, mas diz não poder revelar o nome de seu benfeitor. Pip vai à Londres, se despede de Joe, e torna-se um cavalheiro, sempre acreditando que a Srta Havisham quem lhe legou a soma.

Anos depois, Pip recebe a visita de Abel Magwitch, que se revela seu benfeitor, conta-lhe sua historia, revelando não ser tão hediondo assim, e fez fortuna na América pensando sempre em seu Pip, a quem sempre fora grato desde o fatídico dia de sua fuga.

Essa revelação foi um baque para nosso herói, mas muitas surpresas se desencadeariam a partir daí. Estella, que pensavam ser órfã não o é, inclusive seus pais estavam vivos, só Jaggers sabia disso até Pip desvendar esse mistério. (Na ilustração abaixo,'' Pip e Estella depois de tudo'')

Detalhe: QUEM são os pais dela, essa é uma questão que realmente surpreende!

Bem, etc etc etc, espero não ter sido 100% spoiler, mas só lendo para ter noção da magnitude dessa obra, que revela muito a respeito da sociedade de forma atemporal, pois os conflitos de Pip são pertinentes mesmo para os dias atuais.

Detalhe2: Estella Havisham é uma das edições da coleção Damas de Época (bonecas de porcelana que representam personagens femininas que marcaram a literatura universal, nas bancas, quinzenalmente por 24,99. Não, não estou recebendo por esse merchandising!)


Bem, fica a recomendação, e aprovetem as belas ilustrações do livro.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Meu coração é todo seu


Caros leitores,
Deixo-lhes algumas belas imagens e um vídeo com a bela canção de Léhar Dein ist mein ganzes Herz (Meu coração é todo seu) da opereta O país dos sorrisos que eu considero uma das mais belas, tocantes e emocionantes que já foram escritas. Detalhe: o intérprete é o magnífico tenor Fritz Wunderlich. Assistir ao vídeo no YouTube
Deleitem-se com a letra da canção, que apesar de ser em alemão aqui poderás ler também em português, confirmando a beleza da letra escolhida para a música.
Saudações!



Dein ist mein ganzes Herz!
Wo du nicht bist, kann ich nicht sein.
So, wie die Blume welkt,
wenn sie nicht küsst der Sonnenschein!
Dein ist mein schönstes Lied,
weil es allein aus der Liebe erblüht.
Sag mir noch einmal, mein einzig Lieb,
oh sag noch einmal mir:
Ich hab dich lieb!
Wohin ich immer gehe,
ich fühle deine Nähe.
Ich möchte deinen Atem trinken
und betend dir zu Füssen sinken,
dir, dir allein! Wie wunderbar
ist dein leuchtendes Haar!
Traumschön und sehnsuchtsbang
ist dein strahlender Blick.
Hör ich der Stimme Klang,
ist es so wie Musik.
Dein ist mein ganzes Herz



Meu coração é todo seu!
Onde não estás, não posso estar
Assim como murcha a flor
Sem o teu beijo, se apaga o sol
Tua é a minha mais linda canção
Pois ela brota somente do amor
Diz-me mais uma vez, meu único amor,
Oh, diz-me mais uma vez:
Eu te amo!
Onde quer que eu vá
Eu sinto tua presença
Eu quero beber do teu hálito
E rezar aos teus pés
A ti, somente a ti! Quão maravilhosos
São teus cabelos brilhantes
É um sonho lindo, saudoso
O teu olhar cativante
Ouço o som da tua voz
E soa como música.
Meu coração é todo seu

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Fidelio, a única ópera do “poeta dos sons”

A única ópera de Beethoven reflete a ideologia de uma era: liberdade, luta contra a tirania e o triunfo do amor; ainda impregnada dos ideais do Aufklärung –Iluminismo– que tanto fascinara o compositor quando jovem. É também um divisor de águas sui generis entre a ópera de Mozart e a de Weber pois coexistem elementos clássicos e românticos na obra.


A obra baseou-se em um romance do francês Nicolas Bouilly, Léonore ou L’amour conjugal. A estréia de Fidelio em 1805 no Theater an der Wien foi mal-sucedida: as tropas francesas de Napoleão tinham acabado de ocupar Viena e foram ao teatro apenas uns poucos oficiais, que não gostaram da música pouco convencional do compositor e da mensagem declaradamente política da trama. Entretanto, na sua terceira reestréia, a ópera foi finalmente aceita.


A transcendência dos limites da alma e do subconsciente humano podem ser percebidos através dos cenários escolhidos para a ambientação dos personagens, por exemplo a escura e claustrofóbica masmorra subterrânea na qual Florestan encontra-se. Podemos supor que sendo um prisioneiro político, Florestan percebe-se enclausurado dentro de si mesmo, e devido à ausência de liberdade de expressão vê-se impedido inclusive de pensar, até sua mente está cativa. A obra é repleta de alegorias e simbolismos do gênero.



O libreto consiste na história de Florestan, um jovem nobre, em Sevilha no século XVIII, que foi preso injustamente pelo tirânico diretor da prisão, Don Pizarro. Ao descobrir que Don Fernando, ministro do rei, visitará a prisão e poderá tomar conhecimento das irregularidades por ele cometidas, Pizarro decide matar Florestan. Leonore, esposa de Florestan veste-se como um homem -Fidelio- para salvá-lo, e torna-se ajudante do carcereiro Rocco. Marzelline, filha de Rocco rejeita o amor do jovem Jaquino pois está apaixonada por Fidelio. Quando seu pai o descobre, gosta da idéia e pretende casá-los o mais rápido possível, o que incomoda Leonore/Fidelio. Pizarro ordena que Rocco e Fidelio cavem o túmulo de Florestan. Quando eles chegam à masmorra, Florestan recobra a consciência e Leonore o reconhece, mas seu marido não, por causa de seus trajes masculinos. Pizarro aparece para apunhalar Florestan, mas Leonore saca de um revólver e diz: “Mata primeiro a sua mulher”, revelando sua identidade aos três homens agora surpresos. Nesse momento soa a trombeta anunciando a chegada do ministro, e Pizarro é deposto e preso, Leonore e Florestan finalmente se reencontram e todos os presos políticos são libertos.


Infelizmente é difícil de se encontrar gravações ou mesmo de se assistir ao vivo apresentações dessa chef d’œuvre, mas eu tive a oportunidade de assisti-la no Theatro Municipal do Rio de Janeiro em 2008, o que foi realmente emocionante, pois sempre fui obcecada por Beethoven e sua obra, e Fidelio era “a ópera que eu teria que ouvir antes de morrer” par excellence! Nem acreditei que ela seria apresentada tão perto de mim!


Fiquei encantada ad principium com a magnífica ouverture Fidelio (não confundir com as aberturas Leonore, compostas para versões iniciais da ópera), as árias do 1° ato, o duo de abertura de Jacquino e Marzelline “Jetzt schätzen jetzt sind wir allein ” a da Marzelline “O wär ich schon mit dir vereint”, de Rocco “Hat man nicht auch Gold beineben”, cuja melodia me hipnotizou, e o trio “Gut, sönchen, gut!”. No 2° ato, a Ária de Florestan foi heróica, e o duo com Leonore, “O namenlose Freude”, bravissimo! Apesar de Beethoven não ter seguido em sua linha vocal o bel canto, que já ameaçava roubar a cena da ópera de início do século XIX e seria sucesso sob a pena de Rossini, Bellini e Donizetti, nem o estilo da Grand opéra francesa, que seria sucesso nas mãos de Gounod, Bizet e Meyerbeer, mas seu estilo sui generis, com dissonâncias e harmonias incomuns conquistam o espectador, fazendo-o lembrar de sua obra orquestral, na qual alternavam-se seções de um tom atormentado e heróico com uma calma etérea. Bravo, bravíssimo, Herr Ludwig!


Saudações Beethovenianas!


sábado, 4 de setembro de 2010

Melancholia: uma constante em "O vermelho e o negro" de Stendhal


Melancolia vem do grego μελαγχολία - melagcholía; de μέλας - mélas, "negro" e χολή - cholé, bile.

Esse termo deriva da teoria Hipocrática dos quatro humores: sangüíneo, colérico, melancólico e fleumático, cada um deles eles associa-se a estação do ano, elemento, órgão e características, que para o melancólico são respectivmente: outono, terra baço e frio seco. Acreditava-se que todos os males físicos originavam-se do desequilíbrio entre esses quatro humores.


Durante o Romantismo Byroniano, de Shelley, e Alvares de Azevedo, predominava nas composições poéticas o
spleen, o mal-du-siècle, o tédio inevitável mediante a sociedade do século XIX, sem emoções que valessem a pena, com a crescente miséria advinda da recente exploração do proletariado, dandis sem introspecção filosófica que só sabem vestir-se elegantemente e mocinhas coquetes leitoras de romances que pensam apenas em se casar bem e estar na moda.

É nessa sociedade que se encontram as personagens do romance mais famoso de Stendhal, ''O vermelho e o negro'' (
Le rouge et le noir), que se presta a ser uma "Crônica de 1830", como se apressa a dizer seu sous-titre.

Julien Sorel, rapaz ambicioso e belo da província, é um alpinista social, mas nem por isso deixa de ser complexo, pois nem o próprio sabe o que sente ou pensa, e, graças à maestria de Stendhal podemos observar esse pathos ao longo de todo o livro, em todas as suas emoções e contradiçoes.

Julien tem um affair com a Mme de Rênal, esposa do prefeito de Verrières, e após desconfianças é obrigado a seguir seu rumo, e vai trabalhar com o Marquês de La Mole, e se vê admirado pela bela Mathilde-Marguerite de La Mole, uma jovem enfastiada com a época em que vive e sonha com os ideais de seus antepassados da Era das Cruzadas, na qual ela via mais heroísmo e motivos para viver. Não vê graça em nenhum cavalheiro da moda, zomba de todos e sente até prazer nisso, acha-os indignos de si, apesar do orgulho de se saber venerada por esses nobres. É obcecada pela história de seu antepassado Boniface de La Mole, amante da rainha Margarida que após ser decapitado, tem sua cabeça beijada e guardada pela rainha.

Julien após muita resistência interna acaba por se apaixonar pela moça, e se tornam amantes, porém o relacionamento tem altos e baixos, devido ao orgulho de ambos e à inconstância e arroubos de loucura da Mlle de La Mole, o que impede a plenitude do amor de ambos. Quando Mathilde se descobre grávida, consegue a muito custo obter permissão do altivo Marquês para se casar, porém após uma carta da Mme de Renal o delatando para o pai de Mathilde, tudo desmorona, e Julien atenta contra a vida da ex-amante que não morre. Na prisão Julien se dá conta de que ama ainda a Mme de Renal, deixando Mathilde com ciúmes. Julien é acusado e recebe pena de morte, por livre vontade, apesar dos esforços de Mathilde. Pelo menos esta pôde saciar sua fantasia de Rainha Margarida, de beijar a cabeça decapitada de seu amante.


Nessa obra desastrosa que desnuda a hipocrisia moral e o tédio do século XIX, talvez tenha sido apenas Mathilde quem conseguiu elevar-se da mediocridade inerente à sua época.



sexta-feira, 13 de agosto de 2010

L’Italiana in Algeri, 1813


A ópera L’Italiana in Algeri (A italiana em Argel) foi composta por Gioacchino Rossini -quando este tinha apenas 21 anos- sobre libreto de Angelo Anelli, e é considerada um dramma giocoso, pela mistura de ópera séria com cômica.


O enredo em si é medíocre, repleto de lugares-comuns do orientalismo afetado de princípios do século XIX, como já foi trabalhado uma pouco antes com Mozart em sua ópera Die Entführung aus dem Serail (O rapto do serralho). Porém, nas mãos de um mestre, tudo é pretexto para se tornar uma chef d’œuvre e com Rossini não foi diferente: com seu tempo frenético e suas coloraturas beirando o absurdo fez dessa ópera uma divertida e deliciosa turquerie requintada, salpicando seu tempero característico em cada nota cantada o que nos lembra seus talentos culinários tão celebrados que lhe renderam a alcunha de músico cozinheiro! O mais inacreditável é que L’Italiana in Algeri foi composta em 18 dias apenas...


Vale lembrar que a protagonista, Isabella é uma contralto característica, com seu timbre grave e escuro, sem fugir do seu registro, apesar das coloraturas belíssimas. É uma heroína rossiniana, ou seja, uma mulher forte, astuta, maliciosa, ardilosa e sedutora, com um ar de Rosina, da Ópera Il Barbieri di Seviglia, do mesmo compositor


Quanto às árias, há uma em especial: Pensa alla patria da Isabella, que prenuncia um nacionalismo que veremos em Giuseppe Verdi, e na ária Sta qui fuori la bella italiana temos um duo raríssimo: contralto e baixo, duas vozes corrrespondentes, a mais grave feminina com a mais grave masculina, aópera já valeria a pena só por esse belo duo coloratura.



Brevemente, o plot é o seguinte: Mustafá, o Bei (algo como governante de província) de Argel pretende abandonar sua mulher, Elvira pois se cansou dela, e quer uma amante italiana. Para se livrar da insistência dela em permanecer como sua esposa, ele pretende casá-la com Lindoro, um escravo italiano recém chegado, vítima de um naufrágio, mas ele recusa, pois ama Isabella.

Isabella, uma moça italiana e Taddeo, um senhor italiano já de certa idade, e que a ama chegam à Argel para resgatar Lindoro, amante de Isabella. Taddeo a contragosto finge ser tio dela e ambos são apresentados ao Bei.

Mustafá se encanta com Isabella e a quer para si, mas Taddeo, Lindoro, Elvira e Isabella põem em prática diversas artimanhas para enganar Mustafá e fazer com que ele se reconcilie com a esposa.


Personagens:

MUSTAFÀ, Bey de Argel, Baixo

ELVIRA, Mulher de Mustafá, Soprano

ZULMA, Escrava e confidente di Elvira, Mezzo-soprano

HALY Capitão a serviço do Bei, Baixo

LINDORO, Jovem italiano, escravo favorito de Mustafá, Tenor ligeiro/contraltino

ISABELLA, Senhora italiana, Contralto

TADDEO amigo de Isabella, Barítono

Links:

Baixar a ópera em MP3

Libretto da ópera

Cruda sorte, amor tiranno em vídeo no Youtube por Ewa Podles


quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Ode on Indolence


They toil not, neither do they spin.

1

One morn before me were three figures seen,
With bowed necks, and joined hands, side-faced;
And one behind the other stepp'd serene,
In placid sandals, and in white robes graced;
They pass'd, like figures on a marble urn
When shifted round to see the other side;
They came again, as, when the urn once more
Is shifted round, the first seen shades return;
And they were strange to me, as may betide
With vases, to one deep in Phidian lore.

2

How is it, Shadows! that I knew ye not?
How came ye muffled in so hush a masque?
Was it a silent deep-disguised plot
To steal away, and leave without a task
My idle days? Ripe was the drowsy hour;
The blissful cloud of summer-indolence
Benumb'd my eyes; my pulse grew less and less;
Pain had no sting, and pleasure's wreath no flower:
O, why did ye not melt, and leave my sense
Unhaunted quite of all but-nothingness?

3

A third time came they by;- alas! wherefore?
My sleep had been embroider'd with dim dreams;
My soul had been a lawn besprinkled o'er
With flowers, and stirring shades, and baffled beams:
The morn was clouded, but no shower fell,
Though in her lids hung the sweet tears of May;
The open casement press'd a new-leav'd vine,
Let in the budding warmth and throstle's lay;
O Shadows! 'twas a time to bid farewell!
Upon your skirts had fallen no tears of mine.

4

A third time pass'd they by, and, passing, turn'd
Each one the face a moment whiles to me;
Then faded, and to follow them I burn'd
And ach'd for wings because I knew the three;
The first was a fair Maid, and Love her name;
The second was Ambition, pale of cheek,
And ever watchful with fatigued eye;
The last, whom I love more, the more of blame
Is heap'd upon her, maiden most unmeek,-
I knew to be my demon Poesy.

5

They faded, and, forsooth! I wanted wings:
O folly! What is love! and where is it?
And for that poor Ambition! it springs
From a man's little heart's short fever-fit;
For Poesy!- no,- she has not a joy,-
At least for me,- so sweet as drowsy noons,
And evenings steep'd in honied indolence;
O, for an age so shelter'd from annoy,
That I may never know how change the moons,
Or hear the voice of busy common-sense!

6

So, ye three Ghosts, adieu! Ye cannot raise
My head cool-bedded in the flowery grass;
For I would not be dieted with praise,
A pet-lamb in a sentimental farce!
Fade softly from my eyes, and be once more
In masque-like figures on the dreamy urn;
Farewell! I yet have visions for the night,
And for the day faint visions there is store;
Vanish, ye Phantoms! from my idle spright,
Into the clouds, and never more return!


John Keats

sábado, 24 de julho de 2010

La Carmagnole

Essa canção revolucionária remonta à Revoluçâo Francesa, e é uma de minhas favoritas!!
Apreciem!

Assistir ao video no YouTube (refiz o hiperlink!)



Madam' Véto avait promis {2x}

De faire égorger tout Paris {2x}

Mais le coup a manqué

Grace à nos canonniers

{au Refrain}


Refrain:

Dansons la carmagnole

Vive le son vive le son !

Dansons la carmagnole

Vive le son du canon !


Monsieur Véto avait promis {2x}

D'être fidèle à son pays {2x}

Mais il a manqué

Ne faisons plus quartier

{au Refrain}


Antoinette avait résolu {2x}

De nous faire tomber sur le cu {2x}

Mais son coup a manqué,

Elle a le nez cassé

{au Refrain}


Son mari se croyant vainqueur {2x}

Connaissait peu notre valeur {2x}

Va, Louis, gros paour,

Du temple dans la tour

{au Refrain}


Les suisses avaient promis {2x}

Qu'ils feraient feu sur nos amis {2x}

Mais comme ils ont sauté

Comme ils ont tous dansé

{au Refrain}


Quand Antoinette vit la tour {2x}

Elle voulut faire demi-tour {2x}

Elle avait mal au coeur

De se voir sans honneur

{au Refrain}




sexta-feira, 25 de junho de 2010

É tarde


Olha-me, ó virgem, a fronte!
Olha-me os olhos sem luz!
A palidez do infortúnio
Por minhas faces transluz;
Olha, ó virgem — não te iludas —
Eu só tenho a lira e a cruz.
Junqueira Freire

É tarde! É muito tarde!
Mont'Alverne


É tarde! É muito tarde! O templo é negro...
O fogo-santo já no altar não arde.
Vestal! não venhas tropeçar nas piras...
É tarde! É muito tarde!


Treda noite! E minh'alma era o sacrário!
A lâmpada do amor velava entanto,
Virgem flor enfeitava a borda virgem
Do vaso sacrossanto.


Quando Ela veio — a negra feiticeira —
A libertina, lúgubre bacante,
Lascivo olhar, a trança desgrenhada,
A roupa gotejante.


Foi minha crença — o vinho dessa orgia,
Foi minha vida — a chama que apagou-se,
Foi minha mocidade — o toro lúbrico,
Minh'alma — o tredo alcouce.


E tu, visão do céu! Vens tateando
O abismo onde uma luz sequer não arde?
Ai! não vás resvalar no chão lodoso...
É tarde! É muito tarde!


Ai! não queiras os restos do banquete!
Não queiras esse leito conspurcado!
Sabes? meu beijo te manchara os lábios
Num beijo profanado.


A flor do lírio de celeste alvura
Quer da lucíola o pudico afago...
O cisne branco no arrufar das plumas
Quer o aljôfar do lago.


É tarde! A rola meiga do deserto
Faz o ninho na moita perfumada...
Rola de amor! não vás ferir as asas
Na ruína gretada.


Como o templo, que o crime encheu de espanto,
Êrmo e fechado ao fustigar do norte,
Nas ruínas desta alma a raiva geme...
E cresce o cardo — a morte —.


Ciúme! dor! sarcasmo! — Aves da noite!
Vós povoais-me a solidão sombria,
Quando nas trevas a tormenta ulula
Um uivo de agonia! ...

.................................................................


É tarde! Estrela-d'alva! o lago é turvo.
Dançam fogos no pântano sombrio.
Pede a Deus que dos céus as cataratas
Façam do brejo — um rio!


Mas não!... Somente as vagas do sepulcro
Hão de apagar o fogo que em mim arde...
Perdoa-me, Senhora!... Eu sei que morro...
É tarde! É muito tarde!...



Castro Alves

Adormecida


Ses longs cheveux épars Ia couvrent tout entière.
La croix de son collier repose dans sa main,
Comme pour témoigner qu'elle a fait sa prière,
Et qu'elle va Ia faire en s'éveillant demain.

(A. de Musset)



Uma noite, eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.


'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, num pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.


De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmulos — beijá-la.


Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...


Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!


E o ramo ora chegava ora afastava-se...
Mas quando a via despeitada a meio,
Pra não zangá-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...


Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
"Ó flor! - tu és a virgem das campinas!
"Virgem! - tu és a flor de minha vida!..."


Castro Alves

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Ode à l'Absinthe - Alfred de Musset


Trago-vos mais uma tradução de minha autoria, dessa vez de uma poema atribuído a Alfred de Musset (1810-1857), um dos mais expressivos nomes do Romantismo Francês, sobre o absinto, Bebida tão em voga na França do século 19 à Belle Époque. Espero ter atingido a magnitude do poema em português.

Degustem.



Ode ao Absinto

Oh, verde licor, Nêmesis da orgia!

Freqüentemente, passando por meus lábios rubros,

Você me deu de beber e me fez esquecer meus males;

Eu vi um gigante enpalidecer sob seu abraço!

Oh, irmã da Morte! Traga absinto;

Que entornaremos aos borbotões!


É hora de enfim agradecer-lhe:

Quem não conhece toda a poesia

Uma garrafa de cristal pode portar ao seu lado,

Este quase nunca está perto de uma mesa redonda,

Vi um globos oculares errantes e o mundo

valsar em caretas.


Ele não sustenta que seu coração falha

Que não é sobre a terra coisa que valha

Do absinto ébrio ao sono radiante

Quem pode, quando deseja, durante seu sonho estranho,

Deixando o corpo humano, sentir asas de anjo

Se dirigir aos céus.


Eu o amo! Aos mortais sua força é mais funesta

Que o raio, o fogo, os estilhaços, a peste,

E já o vi com freqüência derrubar o soldado,

Despreocupado de tudo, contentando sua vontade,

Embora sabendo muito bem o que lhe dá vida

Que poupa o combate.


Amo teu forte odor e teu fluxo de um verde escuro

Que deixa lança-se em meio a sua sombra

Chamas cor de sangue ao longo do cristal,

Como se o Senhor, em sinal de cautela,

Quisesse misturar ao verde da esperança

Algum sinal fatal.


Bela como o mar, como suas ondas cruéis,

Você pode quando quiser, esconder como ele,

Sob uma aparente calma seus instintos irritáveis,

E seu fluxo se transforma num oceano de cabeças,

Que batem rindo, nas noites festivas,

Nos portões das cidades.


Para mim, que não quero chegar à velhice,

Eu quero contra tua força tentar minha fraqueza,

Combatendo-lhe, abraçá-lo corpo a corpo.

E quero ver, hoje, num duelo terrível,

Se você pode manter seu título de invencível:

Nossa testemunha será a morte!



Ode à l’Absinthe

Salut, verte liqueur, Némésis de l’orgie!
Bien souvent, en passant sur ma lèvre rougie,
Tu m’as donné l’ivresse et l’oubli de mes maux;
J’ai vu plus d’un géant pâlir sous ton étreinte!
Salut, sœur de la Mort! Apportez de l’absinthe;
Qu’on la verse à grands flots!


Il est temps à la fin que je te remercie:
Celui qui ne sait pas toute la poésie
Qu’un flacon de cristal peut porter en son flanc,
Celui-là n’a jamais près d’une table ronde,
Vu d’un œil égaré les globes et le monde
Valser en grimaçant.


Il ne soutiendra pas sans que son cœur défaille
Qu’il n’est pas sur la terre une chose qui vaille
De l’ivrogne absinthé le sommeil radieux,
Qui peut, quand il lui plaît, durant son rêve étrange,
Quittant le corps humain, sentir des ailes d’ange
L’emporter dans les cieux.


Moi, je t’aime! Aux mortels ta force est plus funeste
Que la foudre, le feu, la mitraille, la peste,
Et je te vis souvent terrasser le soldat,
Insoucieux de tout, contentant son envie,
Quoique sachant trop bien qu’il te donne sa vie
Qu’épargna le combat.


J’aime ta forte odeur et ton flot d’un vert sombre
Qui laisse s’élancer, au milieu de son ombre
Des feux couleur de sang tout le long du cristal,
Comme si le Seigneur, en signe de prudence,
Avait voulu mêler à ton vert d’espérance
Quelque signe fatal.


Belle comme la mer, comme ses flots cruelle,
Tu peux quand tu le veux aussi, cacher comme elle,
Sous un calme apparent tes instincts irrités,
Et ton flux fait tourner un océan de têtes,
Qui battent en riant, les soirs des jours de fêtes,
Les portes des cités.


Pour moi, qui ne veux pas atteindre la vieillesse,
Je veux contre ta force essayer ma faiblesse,
Combattre contre toi, t’étreindre corps à corps.
Je veux voir, aujourd’hui, dans un duel terrible,
Si tu peux soutenir ton titre d’invincible:
Notre témoin sera la mort!


Alfred de Musset