quinta-feira, 21 de abril de 2011

Das Dreimäderlhaus: filme alemão de 1958


O filme Das Dreimäderlhaus (A casa das três meninas), sob direção de Ernst Marischka é baseado na opereta de mesmo nome que teve seu début no ano de 1916, com música de Franz Schubert e Heinrich Berté (1857-1924) com libretto de Alfred Maria Willner e Heinz Reichert inspirado no romance Schwammerl (1912) de Rudolf Hans Bartsch.

É um filme interessante, com belos cenários, cenas delicadas, figurinos e penteados minuciosamente fidedignos à época em que se passa o filme (c. 1813-15), não chega a ser um musical davvero, mas é permeado por belas canções (Lieder) de Schubert e canções vienenses. Apesar de não ser biograficamente fiel a Schubert, encontramos no filme um belo quadro da sociedade vienense da primeira metade do século XIX com sua fervilhante atmosfera intelectual e artística.

O ator Karlheinz Böhm nos revela um Schubert tímido, belo, introspectivo e workaholic, além disso com um nobre coração, pois renuncia seu amor pela graciosa Hannerl (Johanna Matz) em nome de sua amizade com o cantor Schober (Rudolf Schock) que também a ama. O filme exalta o valor da amizade, como podemos observar logo no início, na segunda cena, na qual seus quatro inseparáveis amigos ―Schober, Schwind (Helmut Lohner), Kupelwieser (Albert Rueprecht) e Mayerhofer (Erich Kunz)― articulam para que Diabelli (Richard Romanowsky), editor musical conheça as obras de Schubert. Esse quarteto de amigos nos dá idéia das schubertiades, serões musicais onde se reuniam Shubert e seus amigos, como retratado no desenho de Moritz Von Schwind, pintor e personagem do filme que vemos abaixo.

Um desses amigos de Schubert, Mayerhofer é interpretado pelo aclamado barítono Erich Kunz, dono de magnífica voz e especial talento para papéis mozartianos e de operetas, sendo conhecido principalmente por sua interpretação como Papageno no Singspiel ‘Die Zauberflöte’ (A Flauta Mágica), de Mozart, (que tenho a sorte de possuir uma gravação de Herr Kunz como Papageno, para deleite de meus ouvidos!). Em várias ocasiões Kunz nos presenteia com sua bela voz cantando belas canções e com seu talento para papéis cômicos que é bem aproveitado no filme em seu personagem Mayerhofer.

Deve-se notar também que Rudolf Schock, que interpreta Schrober no filme também é cantor profissional, um tenor de cristalina voz e muito em voga na época. É maravilhoso ouvir tão bela voz aliada a tão belas melodias! A potência e graça de seu timbre podem ser percebidas durante todo o filme, atingindo seu apogeu durante a interpretação da canção Ungeduld.

Como é de se esperar, a parte musical do filme é esplêndida. Porém, devo observar que a história por trás das composições de pelo menos duas das canções é romanceada e não se conecta à realidade dos fatos.

1) A Serenata (Ständchen - Leise flehen meine Lieder) que Schubert se inspira ao passar pela casa de Hannerl e ouvi-la tocar uma de suas sonatas para piano não foi “a primeira canção de amor composta por Schubert” como seus amigos constatam, mas faz parte de um ciclo de canções (Lieder Zyclus) Schwanengesang (O canto do cisne).

2) A canção que Schubert compõs para declarar-se a Hannerl e foi interpretada por Schober, não foi composta para esse fim. A canção denominada Ungeduld und Stolz (Ciumento e Orgulhoso) faz parte do famoso ciclo de canções de Schubert Die Schöne Müllerin (A bela moleira) correspondendo à sétima canção das vinte totais. No início do filme quando Diabelli tranca o cantor da corte Johann Vogl (Ebehard Wächter) para que este cante um Lied de Schubert, trata-se da oitava canção do ciclo d’A bela moleira, Morgengruß (Saudação matinal).

Há paralelamente a presença do compositor Ludwig van Beethoven (Ewald Balser) desde a primeira cena, na qual Schubert assiste a uma apresentação de um concerto para piano e orquestra interpretada por um Beethoven com a audição já bastante comprometida, porém sem perder sua capacidade criativa. Sua única ópera, Fidelio (a qual já escrevi uma resenha por aqui), é citada e podemos assistir ao seu último ensaio antes da reestréia da ópera, junto a Kupelwieser, que foi assisti-la. Beethoven rege o quarteto Mir ist so Wunderbar (É tão maravilhoso para mim) da ópera.

Um filme raro, pouco conhecido e encantador!

Eis algumas imagens do filme:


Schubert com uma bandeja de frango num almoço ao ar livre com Schober, Mayerhofer, Kupelwieser, Schwind, Franzi e Kathi.

Franz Schubert e Moritz von Schwind, que trabalha pintando a casa de Beethoven.


Schober, Schubert, Schwind, Kupelwieser e Mayerhofer deixaram o Goulasch queimar, pois se distraíram cantando e agora tentam recuperá-lo.


Hannerl, Schober e uma de suas irmãs.


Schubert dá a Hannerl um ramo de lilás durante almoço ao ar livre com Hannerl, Hederl, Heiderl (suas irmãs), Franzi, Kathi, Kupelwieser, Schober, Schwind e Mayerhofer.


Schubert sendo impedido de tocar suas sinfonias por Diabelli, que é um entusiasta de suas canções e prefere que Schubert toque as canções com o barítono Vogl.


Johann Michel Vogl, Anton Diabelli e Franz Schubert cumprimentam-se após o sucesso da apresentação dos Lieder no palácio dos Esterházy.


Frau Tscholl despede-se de suas recém casadas filhas Heiderl e Hederl junto à governanta.


Herr Tscholl pai de Hannerl cumprimenta Schubert, professor de piano de Hannerl.

Hannerl vestida de noiva para casar-se com Schober e sua mãe, Frau Tscholl.

Hannerl e Schubert.

Assistir ao trailer de Dreimäderlhaus no YouTube


Nenhum comentário:

Postar um comentário