sexta-feira, 4 de junho de 2010

Ode à l'Absinthe - Alfred de Musset


Trago-vos mais uma tradução de minha autoria, dessa vez de uma poema atribuído a Alfred de Musset (1810-1857), um dos mais expressivos nomes do Romantismo Francês, sobre o absinto, Bebida tão em voga na França do século 19 à Belle Époque. Espero ter atingido a magnitude do poema em português.

Degustem.



Ode ao Absinto

Oh, verde licor, Nêmesis da orgia!

Freqüentemente, passando por meus lábios rubros,

Você me deu de beber e me fez esquecer meus males;

Eu vi um gigante enpalidecer sob seu abraço!

Oh, irmã da Morte! Traga absinto;

Que entornaremos aos borbotões!


É hora de enfim agradecer-lhe:

Quem não conhece toda a poesia

Uma garrafa de cristal pode portar ao seu lado,

Este quase nunca está perto de uma mesa redonda,

Vi um globos oculares errantes e o mundo

valsar em caretas.


Ele não sustenta que seu coração falha

Que não é sobre a terra coisa que valha

Do absinto ébrio ao sono radiante

Quem pode, quando deseja, durante seu sonho estranho,

Deixando o corpo humano, sentir asas de anjo

Se dirigir aos céus.


Eu o amo! Aos mortais sua força é mais funesta

Que o raio, o fogo, os estilhaços, a peste,

E já o vi com freqüência derrubar o soldado,

Despreocupado de tudo, contentando sua vontade,

Embora sabendo muito bem o que lhe dá vida

Que poupa o combate.


Amo teu forte odor e teu fluxo de um verde escuro

Que deixa lança-se em meio a sua sombra

Chamas cor de sangue ao longo do cristal,

Como se o Senhor, em sinal de cautela,

Quisesse misturar ao verde da esperança

Algum sinal fatal.


Bela como o mar, como suas ondas cruéis,

Você pode quando quiser, esconder como ele,

Sob uma aparente calma seus instintos irritáveis,

E seu fluxo se transforma num oceano de cabeças,

Que batem rindo, nas noites festivas,

Nos portões das cidades.


Para mim, que não quero chegar à velhice,

Eu quero contra tua força tentar minha fraqueza,

Combatendo-lhe, abraçá-lo corpo a corpo.

E quero ver, hoje, num duelo terrível,

Se você pode manter seu título de invencível:

Nossa testemunha será a morte!



Ode à l’Absinthe

Salut, verte liqueur, Némésis de l’orgie!
Bien souvent, en passant sur ma lèvre rougie,
Tu m’as donné l’ivresse et l’oubli de mes maux;
J’ai vu plus d’un géant pâlir sous ton étreinte!
Salut, sœur de la Mort! Apportez de l’absinthe;
Qu’on la verse à grands flots!


Il est temps à la fin que je te remercie:
Celui qui ne sait pas toute la poésie
Qu’un flacon de cristal peut porter en son flanc,
Celui-là n’a jamais près d’une table ronde,
Vu d’un œil égaré les globes et le monde
Valser en grimaçant.


Il ne soutiendra pas sans que son cœur défaille
Qu’il n’est pas sur la terre une chose qui vaille
De l’ivrogne absinthé le sommeil radieux,
Qui peut, quand il lui plaît, durant son rêve étrange,
Quittant le corps humain, sentir des ailes d’ange
L’emporter dans les cieux.


Moi, je t’aime! Aux mortels ta force est plus funeste
Que la foudre, le feu, la mitraille, la peste,
Et je te vis souvent terrasser le soldat,
Insoucieux de tout, contentant son envie,
Quoique sachant trop bien qu’il te donne sa vie
Qu’épargna le combat.


J’aime ta forte odeur et ton flot d’un vert sombre
Qui laisse s’élancer, au milieu de son ombre
Des feux couleur de sang tout le long du cristal,
Comme si le Seigneur, en signe de prudence,
Avait voulu mêler à ton vert d’espérance
Quelque signe fatal.


Belle comme la mer, comme ses flots cruelle,
Tu peux quand tu le veux aussi, cacher comme elle,
Sous un calme apparent tes instincts irrités,
Et ton flux fait tourner un océan de têtes,
Qui battent en riant, les soirs des jours de fêtes,
Les portes des cités.


Pour moi, qui ne veux pas atteindre la vieillesse,
Je veux contre ta force essayer ma faiblesse,
Combattre contre toi, t’étreindre corps à corps.
Je veux voir, aujourd’hui, dans un duel terrible,
Si tu peux soutenir ton titre d’invincible:
Notre témoin sera la mort!


Alfred de Musset

2 comentários:

  1. "Deixa-me ser louco(a), com a insânia do absinto, a mais selvagem, refinada, loucura deste mundo" ~ Marie Corelli

    Mas é deveras uma vergonha que pelo menos aqui, em minha cidade, eu não possa saborear tal nectar, nem experimentar o júbilo de ter meu espírito invadido pela fada verde.

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  2. Sinto desapontá-lo, caro Tenaglia, mas atualmente o absinto é bastante purificado a fim de diminuir sua toxicidade, logo o efeito alucinógeno hoje em dia deve-se unicamente ao elevado teor alcoólico, e nao às famosas substâncias de outrora. Non plus de fées vertes!

    Ainda não provei, mas pelo que pesquisei, me desapontei.

    Porém, em absintos mais artesanais, como os produzidos no Leste Europeu ainda conservam o toque do Romantismo e da Belle Époque.

    Saudações

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