Posso ser sua mulher. Sua e de quem mais quiser. Não sou, porém como as outras, crianças do dia, da luz e da flor.
Trago em meus cabelos o fogo, em minha pele o gelo. Em meus olhos as ondas do mar e sua calmaria homicida. Meus cílios são guardiões da noite eterna após ataque de minha boca predadora que aprecia carne.
Sou cigana sem terra, sem rumo. Meu coração sem dono, sem preconceitos é orgulhoso, mas também ama. Posso dançar para você, nas vestes que determinar, no ritmo que preferir. Sem roupa, talvez, por que não?
Meu amor é brutal, fresco, felino, como uma noite quente após um dia de sol espanhol. Meu olhar ipudente penetra-lhe a alma como os dentes da pantera na presa macia. Meu pescoço esguio cheira a sândalo e flores do Oriente, embriagando-lhe os sentidos com um misticismo louco. Minhas pernas, colunas de alabastro, pés e mãos renascentistas.
Sou cruel vampira impiedosa: destroçar corações é meu doce lazer. Se amo porém, saberei recompensa-lo com tudo o que todo mortal sonhou, porém nunca teve-e nem terá, senão comigo. Terá meus ternos olhares, meu cabelo a lhe turvar a visão da luz, minha carne, meu leite, meu mel.
Só não esqueça que como suave sereia noturna mato-lhe antes que morra. Nunca valeu a pena sofrer de amor. E amores, os tenho como passas na farofa: são infinitos. Por mais que se cate e os descarte, sempre novos brotarão à superfície.
Sementes de Papoula
Arte, Literatura, Música, Filosofia, História, Melancolia, Sonhos, o Inconsciente, a Loucura...
segunda-feira, 10 de novembro de 2014
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Bisturi na carne
Cirurgia é algo mágico. Soube disso desde a primeira cirurgia que assisti, uma neurocirurgia no final do ano passado, poucas semanas antes de completar 21 anos. Senti um prazer inexplicável. Na verdade nem sei se a palavra certa é "prazer". Pela primeira vez vi o Homem por dentro, in vivo, ao vivo, toquei o centro da consciência humana: o cérebro. Tive a sensação de ter preenchido um vazio em minha alma médica, até então exclusivamente clínica.
O ambiente cirúrgico é diferente. Todos se vestem da mesma forma, há igualdade. Ainda me pergunto porque diabos nenhum teórico socialista ainda não comentou a respeito.
A beleza fica a cargo dos olhos e sobrancelhas, já que a máscara esconde os lábios, a touca os cabelos e o pijama cirúrgico e o capote as formas do corpo.
Quando se quer sorrir, o outro deve ter a sensibilidade de detectar o sorriso em seus olhos.
Há, porém, uma parte do corpo vestida com sensualidade, fetichizada, a única cujas formas ficam justas em seu envoltório, que parece ressaltar sua magistral importância no ato: um par de belas e habilidosas mãos.
A sala é fria, o sangue quente. O cirurgião vê e explora locais que os demais mortais nem sonham. Toca o cérebro com dedos esguios, apalpa o pulmão com mãos vigorosas. Desconstrói, disseca, extirpa, constrói. "Destruição também é criação", o lema Dadaísta aplica-se aqui.
Piadas, interjeições, risos ou silêncio: tudo depende do momento do ato. Certas vezes ouve-se apenas o som dos aparelhos de monitorização regidos pelo anestesista. Outras vezes, o perturbador som do eletrocautério.
Hoje em dia, sinto uma necessidade física de assistir cirurgias, sujar minhas luvas de sangue. Quando não o faço, fico melancólica. Algumas áreas da Medicina Clínica, como a Neurologia, gosto de estudar a teoria, pois me enriquece o espírito. E Cirurgia me satisfaz o corpo. Daí minha tão árdua dificuldade em escolher o que me fará feliz, visto que tenho corpo e alma e preciso dum equilíbrio para subsistir.
Ainda não faço ideia se seguirei esse caminho, mas sempre terei imenso carinho e respeito por essa área da Medicina, que tão boas sensações me despertou.
Harvey Williams Cushing (1869-1939), considerado pai da Neurocirurgia moderna (http://en.wikipedia.org/wiki/Harvey_Cushing)
sábado, 2 de março de 2013
Céu nublado
Céu nublado
Dir-se-ia teu olhar coberto de bruma;
Teu olhar misterioso (é azul, verde ou se esfuma?)
Às vezes terno e sonhador, às vezes cruel,
Reflete a palidez e a indolência do céu.
Lembras os dias brancos, mornos e velados,
Que em prantos põem os corações enfeitiçados,
Quando, despertos por torção desconhecida,
Os nervos tensos zombam da alma adormecida.
Não raro imitas essas cores vaporosas
Que fulguram aos sóis das estações brumosas...
Como resplendes, horizonte orvalhado,
Quando a flama do sol aquece o céu nublado!
Ó mulher perigosa, ó climas sedutores!
Hei de adorar a tua neve e os teus rigores?
E como arrancarei do inverno em que me enterro
Mais agudo prazer que os do gelo e do ferro?
Charles Baudelaire
Dir-se-ia teu olhar coberto de bruma;
Teu olhar misterioso (é azul, verde ou se esfuma?)
Às vezes terno e sonhador, às vezes cruel,
Reflete a palidez e a indolência do céu.
Lembras os dias brancos, mornos e velados,
Que em prantos põem os corações enfeitiçados,
Quando, despertos por torção desconhecida,
Os nervos tensos zombam da alma adormecida.
Não raro imitas essas cores vaporosas
Que fulguram aos sóis das estações brumosas...
Como resplendes, horizonte orvalhado,
Quando a flama do sol aquece o céu nublado!
Ó mulher perigosa, ó climas sedutores!
Hei de adorar a tua neve e os teus rigores?
E como arrancarei do inverno em que me enterro
Mais agudo prazer que os do gelo e do ferro?
Charles Baudelaire
domingo, 27 de janeiro de 2013
'Carta de aprendizado', do Wilhelm Meister
“CARTA DE APRENDIZADO
‘Longa é a
arte, breve a vida, difícil o juízo, fugaz a ocasião. Agir é fácil, difícil é
pensar; incômodo é agir de acordo com o pensamento. Todo começo é claro, os
umbrais são o lugar da esperança. O jovem se assombra, a impressão o determina,
ele aprende brincando, o sério o surpreende. A imitação nos é inata, mas o que
se deve imitar não é fácil de reconhecer. Raras as vezes em que se encontra o
excelente, mais raro ainda apreciá-lo. Atraem-nos a altura, não os degraus; com
os olhos fixos no pico caminhamos de bom grado pela planície. Só uma parte da
arte pode ser ensinada, e o artista a necessita por inteiro. Quem a conhece
pela metade, engana-se sempre e fala muito; quem a conhece por inteiro, só pode
agir, fala pouco ou tardiamente. Aqueles não têm segredos nem força; seu
ensinamento é como pão cozido, que tem sabor e sacia por um dia apenas; mas não
se pode semear a farinha, e as sementes não devem ser moídas. As palavras são
boas, mas não são o melhor. O melhor não se manifesta pelas palavras. O
espírito, pelo qual agimos, é o que há de mais elevado. Só o espírito
compreende e representa a ação. Ninguém sabe o que ele faz quando age com
justiça; mas do injusto temos sempre consciência. Quem só atua por símbolos é
um pedante, um hipócrita ou um embusteiro. Estes são numerosos e se sentem bem
juntos. Sua verborragia afasta o discípulo, e sua pertinaz mediocridade
inquieta os melhores. O ensinamento do verdadeiro artista abre o espírito, pois
onde faltam as palavras, fala a ação. O verdadeiro discípulo aprende a
desenvolver do conhecido o desconhecido e aproxima-se do mestre.’ ”
[Trecho do romance ‘Os anos de
aprendizado de Wilhelm Meister’ (Wilhelm
Meiters Lehrjahre) de Johann Wolfgang von Goethe]
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
Ein Jüngling liebt ein Mädchen - Um jovem ama uma moça
Trago-vos uma traduçao livre de um poema de Heinrich Heine, (que faz parte do ciclo de canções Dichterliebe (Amor de poeta) de Robert Schumann) e fala da incompatibilidade e dos desencontros amorosos, bem real, eternamente contemporâneo (como é explicado na 3ª estrofe) e não há quem não se identifique.
Ein Jüngling liebt ein Mädchen,
Die hat einen Andern erwählt;
Der Andre liebt eine Andre ,
Und hat sich mit dieser vermählt.
Das Mädchen heiratet aus Ärger
Den ersten besten Mann,
Der ihr den Weg gelaufen;
Der Jüngling ist übel dran.
Es ist eine alte Geschichte,
Doch bleibt sie immer neu;
Und wem sie just passieret,
Dem bricht das Herz entzwei.
--------------------------------------------------------------------------------------------------
Um jovem ama uma moça
Que por sua vez outro escolheu
Esse outro ama outra
E a ela se juntou
A moça só de raiva
Casou com o primeiro
Que seu caminho cruzou
E o jovem ficou triste.
Essa é uma velha história
Que permanece sempre nova
E quando acontece a alguém,
Parte em dois seu coração
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
Beleza desnuda
Nesse post queria colocar algumas Pin-ups do meu extenso acervo de imagens (975) como elogio à beleza feminina desnuda, com pinturas de Gil Elvgren, Zöe Mozert, Arthur Sarnoff, Joyce Ballantyne, Rolf Arsmtrong, Duane Bryers, Pearl Frush, Earl Moran, Fritz Willis, Edward Runci, Billy Devorss, Ted Withers (espero que não esteja esquecendo nenhum)
domingo, 9 de setembro de 2012
Amor?
Nunca senti isso antes. É
algo, puro, bom, sublime, que me dá paz interior e coragem para continuar
vivendo. O que sinto por ele é precioso e especial.
Nenhum outro jamais conseguiu
me despertar tal sensação. É a eterna vontade de estar junto, de conversar, de
rir e olhar nos olhos do amado. É a viciante sensação de desejar sempre sentir
as emanações da alma do outro.
Amor? Talvez seja, mas não com
as hiperbólicas metáforas dos poetas de outrora, mas com a poética simplicidade
das canções de Jazz:
‘Fill my heart with song
And let me sing for ever more
You are all I long for
All I worship and adore
In other words, please be true
In other words, I love you’
É o sentimento que me fornece
a motivação de que preciso para dormir e acordar todos os dias (isso quando ele
ainda não me visita em sonho).
Não me confesso por não querer
correr o risco de perder ou mudar uma amizade tão preciosa, que cultivo com esmero,
como a uma delicada e bela orquídea. Calo-me por preferir a dúvida à certeza de uma possível rejeição
cuja dor temo não suportar.
Enquanto isso, a cada dia
renovo meu amor por ele, prometendo sempre a mim que, enquanto durar a chamar
nenhum outro me conseguirá tocar – seja no corpo ou na alma, ambos dele apenas.
Só quero que ele cante para
mim:
‘You’re the cream in my coffee
You're the salt in my stew;
You will always be my necessity--
I'd be lost without you.’
(Essa história se repete
milhões de vezes em cada milímetro da superfície de nosso planeta. É atemporal
e passível de acontecer com qualquer um de nós...)
terça-feira, 28 de agosto de 2012
A um amigo
Caros,
O poema que vos trago foi escrito tendo por
inspiração um amigo que só consigo descrever como fascinante. Uma alma sensível,
um semblante impassível e uma personalidade um tanto interessante, em suas
qualidades e defeitos!
O escrevi duma só
tirada, no dia 19/07/2012, véspera do Dia do Amigo, mas só tive coragem de
mandar para ele no dia 20 de Agosto, 1 mês depois! (tenho o hábito de destruir meus escritos por achá-los indignos de serem lidos por outrem)
Tem influências do Romantismo pois é o estilo ao qual mais me afeiçoei desde sempre. Não tem métrica nem rimas pois não tenho competência suficientes para fazê-los, meus poemas são "prosa em verso"
Ei-lo:
A um amigo
Meu caro, para quê lhe servem tão belos olhos
Se me é impossível ler a alma
Que se esconde aí por detrás?
Nunca consigo saber no que pensas
O que sentes ou pretendes:
Em teus negros olhos encerras o mistério.
Teu sorriso é o mais belo já exibido por mortal.
Se não consigo fazê-lo sorrir – Ai de mim!
Meu coração se inquieta e tortura.
Não sei que transmutação se passa em minh’alma
Ao ouvir tua doce e confortante voz.
Talvez a alquimia resida nela, e não em mim.
Teus nobres gestos, tuas maneiras e a
Leve melancolia de tua fronte me lembram
Os heróis saídos da pena de Byron.
A melancolia que me torna o humor inconstante
E para a qual nunca encontrei remédio
Sublima quando me falas, me escreves, ou me olhas.
Quando percebo minha pálida e fria mão
Retida entre as tuas, fortes e protetoras
Sinto-me confortada enquanto dura o gesto.
Não sei o que sinto – talvez me seja um vício
(Já que me confunde os sentidos e rima com teu nome)
Como para o poeta de outrora
O absinto ou o ópio.
quinta-feira, 26 de julho de 2012
Princesa Schabat - Heinrich Heine
Queridos, desta vez trago-vos
um poema de Heinrich Heine traduzido para o Português por André Vallias,
extraído do livro “Heine hein?: poeta dos contrários”, da Editora Perspectiva,
magnífica compilação bilíngüe da obra do autor, que também traz alguns ensaios
dele, no qual Heine personifica o rito do Schabat em uma princesa, e descreve
cenas típicas da religiosidade e da visão de mundo judaica.
Vale lembrar que o poeta e
escritor Heinrich Heine (1797-1856) nasceu e viveu na Alemanha e é até hoje
lembrado como sinônimo da intelectualidade de sua época, principal figura do
Romantismo alemão, e teve inúmeros poemas musicados por compositores como
Schumann e Schubert, mas nunca negou suas raízes na cultura judaica, que com
freqüência aludia em sua obra. Excelente exemplo disso é justamente o poema Prinzessin Sabbath (Princesa Schabat) de
1851 que apresentarei aqui.
Há algumas palavras que podem
soar desconhecidas, para tal no final há o glossário, extraído também do
referido livro. A pintura que ilustra o poema é "A favorita", de Leon-François Comerre
Essa postagem foi idéia da
minha querida amiga Mariana Cabo, e dedico a postagem a ela!
Espero que apreciem!
Princesa Schabat
(1851) – Heinrich Heine
Vê-se em fábulas da Arábia
Certo príncipe encantado
Retomar a bela forma
Que o feitiço lhe roubara:
Eis que o monstro cabeludo
Volta a ser filho o rei;
Bem-vestido, deslumbrante,
Toca flauta, apaixonado.
Mas a mágica tem prazo,
E, assistimos, de repente,
Sua alteza reassumir
A monstruosidade antiga.
Príncipe de sina igual
É o herói dessa canção:
Israel, que a bruxa má
Metamorfoseou em cão.
Cão de idéias vira-latas,
Perambula na sarjeta
Das ruelas, para ser
Molestado por moleques.
Mas na sexta-feira à tarde,
Nos minutos do crepúsculo,
Cai o encanto, e aquele cão
Recupera a humanidade.
Homem de emoções humanas,
Coração, cabeça erguidos,
Em traje festivo adentra
A morada de seu pai.
“Saudações, casa paterna,
Majestosa e tão querida!
Tenda de Jacó, pilares
Santos, beijai minha boca!”
Pelo corredor ecoa
Um murmúrio, um tear;
Invisível o anfitrião
Ofegando na calada.
Quieto! Só um senescal
(Zelador da sinagoga)
Anda para cima e para baixo,
Acendendo as lamparinas.
Chamas de ouro que consolam,
Como brilham e tremulam!
Candelabros também fulgem
Orgulhosos no almemor
Ante a arca, em que a Torá
É guardada e protegida
Por belíssima cortina,
Toda ornada de pedrinhas...
Lá no púlpito, o cantor
Da congregação se eleva:
Um baixinho que se exibe
Com sua capinha preta.
Para mostrar a mão tão branca
Faz afagos na garganta,
Põe o indicador na têmpora,
Na goela o polegar.
Gargareja de mansinho,
Pra aquecer a voz e enfim
Brada altissonante: Le-
Khá Dodi, Likrat
Kalá!
Lekhá Dodi –
Vem, amado,
Que tua noiva já te espera:
Ela removeu o véu
Do semblante envergonhado!
Este lindo epitalâmio
Foi composto pelo grande
E famoso trovador
Dom Iehudá há-Levi.
Na canção é festejado
O conúbio de Israel
Com a Princesa Schabat,
Por alcunha “A Silenciosa”.
A princesa é flor e pérola
De beleza; nem sequer
A Rainha de Sabá
A igualou em formosura.
Esta, aquela aristocrata
Da Etiópia que almejou
Destacar-se pelo espírito,
E acabou dando nos nervos.
Ora, a Princesa Schabat
É de fato a encarnação
Da quietude, tem horror
A disputas e debates.
E tampouco ela aprecia
A paixão declamatória,
Esse pathos que
se inflama
Com cabelos desgrenhados.
Quieta e recatada, guarda
Suas tranças no turbante;
Olhos mansos de gazela,
Tão esguia quanto a murta.
Ao amado ela permite
Tudo, menos o tabaco...
“Meu amado, hoje ninguém
Vai fumar porque é Schabat
Em compensação eu vou
Preparar-te para o almoço
Acepipe que é divino-
Hoje comerás um cholent”
Cholent,
divinal centelha,
Filha que nasceu no Elísio!
Assim cantaria Schiller,
Se provasse o Petisco.
Cholent é o
manjar dos Céus,
Foi o próprio Deus Senhor
Que passou para Moisés
A receita no Sinai.
Naquela mesma montanha
Onde também revelou
A doutrina e os mandamentos
Numa nuvem de esplendor.
Cholent,
ambrosia koscher
Do Deus uno e verdadeiro,
É o maná do paraíso,
E, com ele comparado
É tão só uma porcaria
Dos diabos a ambrosia
Que na Grécia os simulacros
Do Capeta compartilham.
Quando come a iguaria,
Nosso Príncipe se acende...
Alegre, desabotoa
A camisa e vai dizendo:
“Porventura ouço o Jordão?
Ouço as fontes murmurando
Pelo oásis de Beth-El,
Refrigério dos camelos?
Ouço os sinos do rebanho?
Ouço ovelhas bem gordinhas
Que o pastor tange do monte
Gilead, ao pôr-do-sol?”
Mas o lindo dia esvai-se;
Já sombreia com as pernas
Da negrura a hora vil
Do feitiço – Nosso príncipe
Sente o coração gelar
Sob as garras da magia;
Dissemina-se na entranha
A transmutação canina.
A princesa lhe oferece,
Num estojo de ouro, a mirra.
Ele a inala devagar...
Para alegrar o seu nariz.
Ela lhe serve na taça
Um licor de despedida...
Sôfrego, numa tragada
Ele o sorve. E algumas gotas
Sobre a mesa então derrama;
No molhado ele mergulha
Uma vela acesa: a chama
Chia aí – vira fumaça.
Glossário:
Almemor:
espécie de púlpito, na sinagoga onde se lê a Torá
Iehudá há-Levi
(1080-1140): médico, filósofo e poeta judeu nascido em Toledo
Cholent: prato
da culinária judaica, espécie de cozido ou feijoada, com ingredientes variados-
feito para ser comido no Schabat; seu preparo se inicia na véspera, em fogo
brando para que não precise de intervenção, o que violaria a proibição de
cozinhar no dia santo.
Koscher: do
hebraico “próprio”; comida preparada segundo as leis alimentares do judaísmo
Observação:
Na estrofe :
“Cholent, divinal centelha,
Filha que nasceu no Elísio!
Assim cantaria Schiller,
Se provasse o Petisco.”,
o autor usa da
intertextualidade com o poema Ode an die
Freude do poeta Friedrich von Schiller a famosa Ode à Alegria musicada por
Ludwig van Beethoven na 9ª Sinfonia, que diz:
“Alegria, divinal centelha,
Filha que nasceu no Elísio!”
Assinar:
Postagens (Atom)